Não surpreende, mas abala

em 23 de abril de 2024


Amor?
O que diabos é amor.
É tudo falso amor.

Esse é mais um amontoado de sentimentos em forma de palavras de situações que já estou acostumada, mas que ainda sim, me abalam.


Tenho pensado muito na "Valéria amargurada" de anos atrás que não acreditava em amor. Pois é, acho que voltei a este degrau mais uma vez. E digo amor no sentido geral. Amor romântico, amor de amigos, amor de família, amor próprio. Acho que eu nunca acreditei em nada disso e todas as vezes que por algum motivo aparecia alguém ou alguma situação que fazia derreter um pouquinho o gelo do meu coração uma faísca se acendia na minha vida e meus olhos brilhavam na esperança de que sim esse tal amor existe. Mesmo com receio e cheia de armaduras me despi, todas as vezes, pra receber e principalmente dar esse amor. 


Porém em quase todas as vezes que me abri pra esse amor, acabei me decepcionando. Sempre acabei entendendo que sou uma pessoa difícil de ser amada, uma pessoa que não é digna de amor. Então por que acreditar no amor se é isso que as pessoas me fazem acreditar? Se toda pessoa que me fez me sentir amada também foi a pessoa que me fez me sentir a pior pessoa do mundo?


Quanto maior a intensidade, maior a queda. Talvez não valha a pena. 


Uma vez me contaram sobre a teoria do pêndulo: quanto mais feliz você fica, no momento em que o pêndulo vira, a tristeza será na mesma intensidade. Se você está apenas um pouco feliz, a velocidade do pêndulo será menor, então a tristeza será menor. 


Mas sempre vem o momento da decepção, da tristeza, do acabou tudo. Ontem éramos íntimos, sabíamos muito um sobre o outro. E hoje somos completamente estranhos. Eu nunca entendi isso. Parece tão fácil para as pessoas não se importarem. Pelo menos é o que eu sinto, que nunca se importaram comigo depois do adeus, enquanto eu passo dias, semanas, meses e anos lembrando daquela pessoa.


Por exemplo, fazem quase dois anos que meu namoro acabou e todos os dias me pego pensando em tudo aquilo, tentando entender o porquê tudo aconteceu. Não sinto culpa. Mas fico tentando entender. Ainda mais pela forma que tudo aconteceu. É difícil se amar quando apareceu alguém melhor que você. Tem horas que eu queria estar vivendo aquele relacionamento novamente, tem horas que eu queria que aquilo nunca tivesse existido. Fico me martirizando do porque até o momento não ter encontrado um novo amor, das poucas vezes que tentei algo, me frustrei, só pra variar um pouco... Mais uma vez volto para a minha adolescência quando todas as minhas amigas tinham seus 'namoradinhos' e eu mal tinha beijado. Volto a pensar que o problema sou eu. Será que sou feia, chata, burra, será que estou velha demais? Cada dia fica mas difícil acreditar que o amor existe.


Tenho pedido pra Deus tirar do meu coração o desejo de casar e ter filhos caso isso não seja da vontade Dele.  Não quero continuar sofrendo por algo que talvez nunca possa acontecer. Infelizmente os anos estão passando... Mas ao mesmo tempo peço pra Deus para que eu e minha mãe sejamos merecedoras, e que ela possa me ver entrar no altar e me ajudar a cuidar de um bebê. Seria incrível poder dividir esses momentos com ela. Mas sempre vem a dúvida, o amor existe mesmo pra isso possa acontecer na minha vida?


Outro exemplo são as amizades que perdi durante o caminho. Pessoas das quais eu amava e queria por perto. Amigos da escola, amigos do trabalho, amigos da vida, amigos dos rolês, amigos vizinhos... amigos que eram importantes pra mim, mas que preferiram não se esforçar mais pra nos vermos, pra manter uma relação, escolheram não se esforçar mais pra resolver possíveis maus entendidos. Não me culpo. Sei que sempre fui uma excelente amiga, óbvio que não sou perfeita, mas tenho plena consciência que sempre fiz o que pude para estar presente nos bons e maus momentos. Mas quase todos os dias me pego pensando em alguém que ficou pra trás. Inúmeras vezes já fui ao encontro desses, tentei me aproximar, mas são raras as vezes que sinto a pessoa disposta ao mesmo. Cada dia fica mas difícil acreditar que o amor existe.


Já tive muitos momentos em que me senti sem amigos, por isso sempre tento acolher quem se sente assim, porque já vivi na pele o que é isso. Já vivi situações de decepção, de fofoca, de falsidade, de pessoas que só estavam ao meu lado nos bons momentos, mas quando precisei se distanciaram. Isso já aconteceu inúmeras vezes. De tanto que já vivi isso, situações assim não me surpreendem, mas infelizmente ainda me abalam. É quase impossível confiar nas pessoas. Mas agradeço a Deus por nunca ter me deixado sozinha nesses momentos.


O amor de família é ainda mais complicado. Cresci num lar cheio de brigas e ainda vivo neste mesmo ambiente até os dias de hoje. Desejei muitas vezes que meus pais se separassem. Minha mãe é uma das pessoas mais traumatizadas e revoltadas que eu conheço, ela mesma sempre me disse que o amor era falso e mesmo assim sempre fez o maior esforço para demonstrar amor, do jeito dela... Lembro que quando era criança eu gostava de fazer massagem em suas costas, mas ela não gostava que encostasse nela, ela me dizia "eu não gosto que encostem em mim", eu não entendia, mas aos poucos fui insistindo e ela aos poucos foi deixando. Nos dias de hoje, sempre nos abraçamos. Talvez o amor possa ser isso né? Insistir em quem a gente sente que precisa de carinho. Mas aí vem a questão, será que alguém estaria disposto a insistir em mim? Tá todo mundo tão ocupado e pensando em si mesmo... O mundo é egoísta demais pra achar que isso possa existir. Todo mundo fala da falta que faz o amor de pai, e é verdade. Tenho milhares de histórias pra contar e demonstrar que o amor não existe neste sentido. Meu pai nunca foi e não é próximo dos filhos. Lembro de quando criança entregar aqueles presentinhos de dia dos pais à ele. Ele olhar por dois segundos e me devolver. Lembro dele falando para minha mãe que ia cobrar dinheiro dela por ele ter que ir me buscar na escola. Lembro dele falar "primeiro lugar eu, segundo lugar eu, terceiro lugar eu". Ele é uma das pessoas mais egoístas que eu conheço, só perde para o meu irmão mais velho. Se eu escutasse isso hoje sem dúvidas daria um sermão nele. Quando criança e adolescente eu não tinha coragem de retrucar meu pai ou defender minha mãe em uma briga, hoje eu falo, me meto, e ele sempre fica quieto quando estou falando. E nossa, isso são só detalhes perto do caos que é minha família. Cada dia fica mas difícil acreditar que o amor existe.


Tem momentos que me questiono: será que a vida é só isso mesmo? Decepção atrás de decepção, todo mundo correndo para seus compromissos sem nem respirar, dinheiro, concorrência, ignorância, falta de oportunidade, má educação, injustiça, golpes, pessoas maldosas. Cara, esses dias vi uma briga no ônibus e aquilo me fez tão mal, eu tive vontade de chorar, de voltar pra casa no mesmo instante, as pessoas pareciam bichos. Naquele momento eu percebi que é muito difícil ter esperança neste mundo. Cada dia fica mas difícil acreditar que o amor existe.


As pessoas falam "faça terapia e não sei mais o que"... Ok, eu entendo que isso possa ajudar. Na verdade, eu gosto de métodos mais complexos do que a TCC, que de fato não é a abordagem que eu gosto, eu não me identifico nada com esse método. Mas como eu aprendi em casa mesmo, a terapia não ajuda em MUITA coisa. Nós mesmos precisamos nos ajudar. Acho que por isso eu prefiro eu mesma resolver meus problemas, sem contar pra ninguém ou para o menor número de pessoas possíveis. Porque sempre vai ter alguém pra te julgar quando você só quer ser acolhida. "Ah, mas ajuda você a lidar melhor..." Cara, no meu ponto de vista o buraco é muito mais embaixo. Vai me ajudar a lidar com uma pessoa viciada em drogas? Vai me ajudar a lidar com decepções, briga no ônibus, desemprego, injustiça, falta de oportunidade, a encontrar um amor? Não! Eu não quero lidar com esses sentimentos e essas situações que são reais de forma mediana ou as vezes sim, eu só quero lidar com tudo isso de forma mediada e não ter que explicar minhas atitudes pra ninguém. Afinal, só eu sei o que eu sinto, só que eu sei as situações que eu vivo. E muitaaas coisas não depende só mim. Acho que acima de tudo é o que mais me causa frustração é isso, praticamente todas essas questões não dependem só de mim. Dependem muito das outras pessoas e isso eu não posso controlar. 


É muito fácil falar e julgar a maneira como você agiu em determinada situação, mas ninguém quer falar sobre o porque você agiu daquela maneira, o que você sentiu pra agir daquele jeito, o que o outro fez pra você, pra que você agisse assim. Ninguém liga para o sentimento alheio. É tudo sobre o seu próprio umbigo.


Como eu disse, esse post seria um amontoado de sentimentos em forma de palavras. Coisas que eu precisava desabafar. E sabe, não quero conselhos ou nada do tipo. É só um desabafo mesmo das decepções da vida que vão me endurecendo cada vez mais e me fazendo desacreditar ainda mais no amor. Tem aí coisas soltas, sem sentido... Mas eu só queria despejar tudo em palavras mesmo. É a maneira que sempre encontrei de me ajudar. Me faz bem. Inclusive me sinto até mais leve neste momento, após escrever tudo isso.


E pra não terminar de forma tão negativa, saibam que no fundinho do meu coração eu não quero voltar a ser a "Valéria amargurada", no fundinho ainda tem uma faísca, fraquinha fraquinha, na esperança de poder acender novamente para o amor e principalmente, na esperança de não se decepcionar novamente, ou ao menos, perceber, que ao se decepcionar, as pessoas se importam, que eu sou amada pelo jeitinho que eu sou, e que eu tenho com quem contar também nesses momentos.


Ainda tem uma faísca bem fraquinha aqui dentro, pois mesmo muitas vezes não querendo eu sinto amor pelas pessoas e sinto amor por muitas coisas. Talvez isso seja um sinal de que o amor talvez exista.


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Uma música que mexeu muito comigo nos últimos tempos e que diz tudo o que eu sempre senti é "Camadas" da banda Fresno.


"Quando eu falava em me matar
Eu só queria enterrar
O que eu achava de mim
Quando eu falava em amar
Eu só queria encontrar alguém igual a mim..."
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