A última

em 20 de abril de 2023


Quando criança eu era a última a ser escolhida para o time nas aulas de Educação Física, talvez por ser a mais pequenina, magrinha e quietinha. Isso me fez odiar as aulas e os esportes (até hoje não curto). Não sei se vocês tiveram isso, mas na minha sala sempre tinha aqueles 'cadernos de confidência', e nunca me deixavam assinar, talvez por eu ser justamente a mais certinha, na minha e nunca ter me envolvido em nada muito maluco, então acredito que na cabeça do pessoal, eu não tinha nenhuma resposta muito mirabolante pra escrever no tal caderno. Isso me fez me sentir sem importância.

No pré, lembro claramente de ficar sozinha no recreio algumas vezes e eu sempre via uma menina muito bonita brincando pelo pátio, foi quando fui perguntar pra ela se ela gostaria de ser minha amiga e ela disse em claro e bom tom "NÃO!" e eu fiquei parada no pátio sem ninguém. O mais engraçado é que perguntei mais de uma vez se ela queria ser minha amiga e ela sempre negou. Essa situação me fez me sentir solitária.

Crianças são maldosas.

Eu fui a última do meu grupinho de amigas a aprender a ler. Enquanto minhas amigas tinham a letra bonita, eu precisei fazer caligrafia porque escrevia com muita força, além de ter a letra feia obviamente haha. 

Dei meu primeiro beijo já tinha 16 anos, hoje isso seria considerado bem tardio.

Na faculdade praticamente não tinha amigos, além de estar num curso do qual eu não me identificava. Chorava quase todos os dias antes de ir ou quando chegava em casa de tanto cansaço de ter que estudar e trabalhar. Eu mesma me consolava.

Enquanto minhas amigas contavam como estava o namoro, os encontros com vários meninos e as aventuras por aí, eu apenas ficava quieta. Essa situação me causava muita angústia.

Por que será nenhum menino se interessava por mim? Será que sou muito feia, muito chata, muito burra? Qual meu problema? 

Passei anos sem ficar com ninguém. Fui me apaixonar apenas com 25 anos por um cara que me trocou pela amiga dele. 'Perdi' a virgindade beeem tarde. Com um cara que deu em cima de uma amiga minha e me tratava como lixo. Tá aí um trauma que ainda carrego. Sentia muita tristeza sobre isso. Parece que além de sempre ser a última eu sempre era substituível e sem valor.

Sempre tem alguém melhor que eu.

Das minhas amigas eu fui a última a namorar, com 28 anos. Uma idade bem avançada. Ouvi inúmeros comentários maldosos ao longo da vida sobre isso. 

Quando vai casar? Ainda não tem namorado? A vida passa rápido. Vai ficar pra titia. Deve ser ruim não ter ninguém.

Eu sempre dava um sorriso amarelo e entrava na "brincadeira", mas quando chegava em casa chorava e chorava por ter que ouvir esse tipo de coisa. Meu sonho desde criança sempre foi casar e construir minha família, talvez por isso esses comentários me machucavam tanto. Porque no fundo era tudo o que eu mais desejava. Sempre sonhei com o príncipe encantado. Para poupar um pouco de sofrimento, passei a dizer que eu não era romântica, que odiava essas coisas. Apenas uma maneira de driblar esses comentários maldosos. Odiava ver fotos de casais no feed, odiava quando chegava o dia dos namorados e fazia piadas com a data, dizia que eu tinha o coração de gelo e tava tudo bem.

Apenas uma armadura.

Via tantas pessoas felizes em seus empregos, realizadas com sua profissão escolhida e eu me sentia totalmente perdida, sem rumo, sem expectativas de encontrar algo que eu realmente amasse. E nunca foi falta de tentar. Eu nunca fiquei parada. Fazia o que estava ao meu alcance, sempre me esforcei, mas parecia que nada valia a pena. Mais uma vez, fui a última a me encontrar.

Depois mais um soco nas costas. Perdi o meu príncipe encantado, que convenhamos nem era tão encantado assim, para alguém melhor que eu. Perdi amigos. Perdi novamente a esperança. Meus sonhos ficaram mais uma vez distantes. E novamente me senti atrasada na vida. 

A última a ser escolhida.

Eu sei que existe o tempo certo pra tudo, que o tempo de Deus não é o mesmo que o nosso e tantas outras frases motivacionais que já cansei de ouvir. No fundo eu acredito nisso. Mas sou humana e tem dias que o desânimo, a tristeza e a melancolia me acompanham e é difícil demais ver as coisas de outra perspectiva. 

Estou cansada de ser a última. Estou cansada de nunca ser a escolhida. Cansada de ser a segunda opção. Cansada de me sentir atrasada. 

12 comentários:

  1. Me identifiquei em muitos pontos com o seu texto. Sempre era a última a ser escolhida na Educação Física, perdi a virgindade "tarde", vi minhas amigas começarem a namorar e sair com meninos antes de mim... Enfim, sei como tudo isso pode ser doloroso.

    Se pode servir de conselho, as áreas da minha vida começaram a andar quando eu parei de me importar com tudo e todos e só segui... e aí foi tudo fluindo. Sei que isso é muito mais fácil de dizer do que de falar, mas é como posso ajudar agora <3

    Estante da Pipoca

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  2. Oi Val,
    Espero que esse comentário te encontre bem.

    Me identifiquei com vários pontos do seu texto, e queria dizer que sinto muito por essas situações e sentimentos. As vezes acho que a gente fica tão presa em se encaixar em padrões e alcançar expectativas alheias, que perdemos contato com quem realmente importa, nós mesmas. Passamos a nos colocar em segundo plano, já que se encaixar em tais padrões é muito mais importante do que ser/fazer aquilo que queremos e da forma que nos sentimos a vontade. E falo isso pra mim mesma, já que hoje percebo que me prendi em uma rede de insegurança que eu mesma joguei.

    Mas enfim, acho que o que realmente importa é que estamos tentando. E o fato de você fazer um post assim mostra o quanto está disposta a mudar isso. E espero que consiga. Que encontre pessoas que te escolham primeiro, que te incentivem e te façam sentir a vontade para seguir seu fluxo e seu tempo.

    Se vale de alguma coisa, saiba que aqui tem várias pessoas que te escolhem pois se interessam genuinamente no que você tem a dizer, eu sou uma delas, e aliás espero que algum dia a gente possa se conhecer pessoalmente :)

    Beijos,
    https://brenshelf.blogspot.com/

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  3. Eu me identifiquei muito com suas palavras. Eu nunca gostei de esportes porque acredito que cada um tem o seu gosto pessoal e se desenvolve melhor em determinadas atividades. Eu sempre gostei mais de artes, mas na escola era obrigada a fazer esportes. Então, aprendi a fazer tudo errado só para não ser escolhida. Eu era a juíza dos esportes. Eu que marcava os pontos ou apitava e gostava disso. Ainda não gosto de esportes.
    Na minha escola também tinha um caderno, mas o nome era caderno de enquete. Eu sempre ficava para o fim também. Com o tempo não me importava mais em responder.
    Eu sempre fui a última em relação a namorados também.
    Hoje percebo que cada um tem a sua estrada para seguir e um tempo diferente. Tento não me comparar a ninguém porque senão vou chorar eternamente.
    Bjus!!!

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  4. Valéria, querida, queria estar perto para te dar um abraço. Sei que a coisa mais chata que pode acontecer numa situação dessas é alguém dizer que vai ficar tudo bem, tudo a seu tempo e tantas outras frases de conforto... que acabam tendo o efeito contrário. Por isso vou te desejar força ~ e que você consiga ter um olhar carinhoso e afetuoso para dentro de si. Você não é melhor, nem pior do que ninguém. Você é única e isso é maravilhoso. <3

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  5. Seu relato na escola me lembrou muito da minha própria vivência, eu até tinha um grupo com que andar, mas era aquela pessoa capacho sabe, como se as meninas estivessem fazendo um favor em me deixar participar do grupo. Pelo menos era como eu me sentia e ninguém se importou em perceber ou tentar ajudar. Sobre bv tardio, vou fazer 40 anos e ainda não perdi. me apaixonei várias vezes, mas nenhum menino me quis e nenhum nunca se apaixonou o suficiente para se declarar...

    Estou praticamente do mesmo jeito agora na vida adulta. Nunca tive um relacionamento romântico, estou sem emprego (acho que vou me dedicar à carreira de escritora mesmo) e não tenho mais esperanças que isso vai mudar. Mas sei de uma coisa. Desabafar faz bem. Tirar essa dor do peito. Seja aqui no blog, em um diário, é o que eu tenho feito e tem me ajudado. Também confio no tempo de Deus, mas Ele nos fez humanas, é somos seres que sentimos bastante. Não é possível evitar.

    Receba meu abraço!
    Helaina (Escritora || Blogueira)
    https://hipercriativa.blogspot.com

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  6. I often felt the same way as you - feeling left out, feeling like I was late after everyone else my age, the last one to be picked, staring from my childhood and long after that. It's one of those things that I'm working on with my therapist and it really helps me on my healing journey.

    All I can tell you now is that you're not late and you're not the last one to be chosen - your life has its own unique timeline and it shouldn't be compared to anyone else's. Everything happens in its right moment, and even when it feels like it's going slow and going nowhere - it still flows and so many wonderful things are yet to come your way. You are young, and beautiful, and life still has so much in store for you. And it's okay to be honest with yourself on how you feel about some things and it's normal to not feel happy and okay at all times, but life is still far from over and there are so many happy moments, new memories and wonderful, loving people that you are yet to experience and meet. You're not alone, I promise you. <3


    http://www.couture-case.com/

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  7. Me identifiquei em cada ponto do post. Sempre era a última em todas as experiências da idade e até esses dias estava refletindo sobre nunca ser a pessoa favorita de ninguém. As pessoas gostam de mim, mas eu nunca sou a favorita, até eu coloco outras pessoas em primeiro lugar antes de lembrar de mim.
    O grande problema de tomarmos consciência de ser a última escolhida é que as pessoas ao redor percebem isso também e tiram vantagens. É preciso muito auto conhecimento para driblar as situações e evitar ser passada para trás.
    Beijos
    https://www.dearlytay.com.br

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  8. Achei teu texto lindo pela sinceridade, mas muito triste também. Me identifiquei em muuuitos pontos.
    Normalmente o povo diz que as crianças são inocentes né? Pois discordo kkkkk às vezes elas são maldosas sim, e não só as crianças mas os adultos de forma geral. Essa mania de julgar as atitudes dos outros, cuidar da vida dos outros... Acho simplesmente ridículo. E a gente se sente mal justamente por existir um padrão que nos é imposto. Temos vidas tão diferentes, tão singulares... Pra que um padrão?
    Se te conforta um pouco, perdi o bv com dezenove anos kkkkkkkk o que é ainda mais tardio. Desejo de todo coração que passe a se sentir melhor com essas situações, principalmente com relação a vida profissional. Isso é o que mais pesa pra nós na vida adulta. Cuide de você! Beijo <3

    Com carinho, Aline
    ✨ Violets for Roses ✨

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  9. Poxa, eu sei bem como é, na infância eu até tinha algumas amigas que gostavam de mim por ser bobona, mas na hora de ajudar nas aulas todas preferiam ficar com as que eram inteligentes. Não é totalmente ser a última, mas entendo o quanto ficou magoada e espero que hoje em dia suas amigas supram essa dor de quando era criança. Agora depois de adulta tenho pouquíssimos amigos (e até prefiro) quando se é adulto percebe o quanto ter pouco é maravilhoso, desde que seja de verdade!!!

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  10. Oi, espero que esteja bem. Eu me identifiquei muito com seu texto. Eu era a Nerd na escola, beijei pela primeira vez aos 15 anose comecei a namorar bem tarde, de acordo com a opinião da sociedade. Eu me sentia a última também e infelizmente para me "encaixar" acabei mudando pelos outros, porque eu achava que isso iria me fazer feliz. Mas enquanto eu vivia pra agradar e esperando ser escolhida eu me podava e sempre ficava para trás. No entanto quando eu percebi que eu mesma poderia me escolher, que onde eu não caibo por inteira não merece minha presença, tudo mudou. Eu passei a não ficar no final da fila, não porque todo mundo me acha incrível agora. Mas sim porque eu sei que sou incrível do meu jeito, passei a dar valor a minha própria companhia, me reconheci.

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  11. Não sei nem o que dizer com esse desabafo. Me vi nele em vários momentos e senti sua dor também. O que eu posso te dizer, e talvez venha te consolar, que alguém ainda em sua vida vai te tratar como primeira e te fará muito feliz nessa vida. Só aguardar, para ver. Tenha fé e esperança. Creia e confia. Não disse isso para te agradar. Disse porque Deus me falou para te falar. Creia nas promessas de Deus.

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  12. Eu nunca vou saber exatamente como você se sente, mas eu acredito (ou finjo acreditar) que a gente passa pelas dificuldades porque faz parte da nossa jornada. E eu acredito que se fizermos a nossa parte, uma hora vamos ser recompensadas e todas essas dores servirão para o nosso futuro, porque vamos entender as pessoas mais novas que estiverem passam pela mesma situação e não vamos julgar, pois sabemos o quanto uma palavra pode machucar.

    E vejo que pelo o que você descreveu, você está nessa linda jornada, se tornando a pessoa que você realmente é e é isso que atrai as pessoas certas na sua vida. Então continue sendo você e deixe que as pessoas certas te encontrem ♥

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